Powered By Blogger

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Viver acima das possibilidades

O agudizar das medidas de austeridade de combate à crise financeira de Portugal, tem levado muitos a difundirem a ideia de que o Estado tem gasto mais do que devia, de que Portugal tem vivido acima das suas possibilidades. Se em parte estas apreciações têm um fundamento, elas têm sido usadas de forma a generalizar e diluir as responsabilidades do estado a que Portugal chegou.

Os portugueses que nas últimas décadas se propuseram junto dos Bancos a contrair empréstimos com vista à compra de habitação, foram sempre confrontados com a prova dos seus rendimentos reais e com a obrigatoriedade de conceder garantias bancárias. As instituições financeiras calculavam as taxas de esforço dos portugueses, obrigavam a existência de hipotecas, avales, garantias diversas como seguros de vida e outros. A preocupação com o cálculo final da dita taxa de esforço, transmitia aos clientes dos bancos da necessidade de não afectar ao serviço da dívida mais do que 40% ou 50% dos seus rendimentos. Estes procedimentos foram para além do mais, pedagógicos e didácticos, muito embora não tenham resolvido os efeitos dramáticos da perca de emprego.

À margem destas práticas saudáveis, o Estado português, na pessoa da sua Administração central, local, das regiões autónomas e também das empresas públicas, multiplicou práticas de endividamento descontrolado sem qualquer preocupação de medição da taxa de esforço. Por razões eleitoralistas, na maioria dos casos, mas também por irresponsabilidade e incompetência, os governantes de Portugal nos cargos que ocuparam na administração central, local, nas regiões autónomas e nas empresas públicas, recorreram ao crédito desenfreadamente. Os velhos princípios de gestão que aconselham a práticas eficientes e eficazes foram vilipendiados. A boa gestão aconselha a medir os meios e recursos que se afectam aos fins. Mas os nossos governantes, sobrepuseram o instinto eleitoralista aos princípios elementares de gestão. As consequências estão à vista!...

Mas quem é que viveu acima das suas possibilidades? A generalidade dos portugueses que foram obrigados a calcular e respeitar as suas taxas de esforço? Ou os governantes da Administração central, local, das regiões autónomas e das empresas públicas, que se endividaram sem limite algum? A demagogia da afirmação do viver acima das possibilidades está à vista. As generalizações são sempre perigosas e esta não foge à regra.