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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Inventem-se novos pais

Inventem-se novos pais e mães!

O regresso dos pais autoritários
Os pais têm de recuperar a autoridade perdida e deixarem de querer
agradar aos filhos, ou o mundo estará perdido, afirma um dos mais famosos
pediatras do mundo. Fomos saber porquê.


Catarina fonseca/activa | 10 fev. 2010

Confesso que ia um bocado amedrontada. Afinal, ia entrevistar um dos
homens responsáveis por um dos maiores escândalos educativos das últimas
décadas, o homem que defendera a urgência do regresso ao poder dos pais
contra os todo-poderosos filhos.
Acusado de tudo, de fascista para baixo, o pediatra líbio-francês Aldo
Naouridiz
que os pais se demitiram do seu papel de educadores e em vez
disso se dedicam a satisfazer a criança, com o único desejo de se fazerem
amar. Diz que confundimos frustração com privação. Diz que transmitimos à
criança que não só pode ter tudo como tem direito a tudo, içando-a ao topo
do edifício familiar, onde ela nunca esteve e onde nunca deveria estar. Diz
que um filho hoje não é criado para se tornar ele próprio, mas para
gratificar e servir o narcisismo dos pais. Diz que estamos perante uma
epidemia que encoraja os pais a seduzirem as crianças, tornando-as assim em
seres obsessivos, inseguros, amorfos e emocionalmente ineptos, que não
sabem gerir as suas pulsões e são incapazes de encontrar o seu lugar no
mundo.
Em resumo, esperava alguém mais parecido com o Deus do Velho Testamento,
que me recebesse com raios e coriscos, ou pelo menos uma praga de
gafanhotos. Em vez disso, recebeu-me com um sorriso só equivalente ao sol
de Lisboa, agarrou-me na mão, perguntou-me por que é que não tinha filhos e
assegurou-me que os homens são todos uns egoístas. "Portanto, madame, é só
escolher um! São todos iguais!"

Por entre gargalhadas, falou-se de coisas muito sérias, como aquilo que
andamos a fazer às crianças. Ora leiam.

- ENTãO, NADA DE DEMOCRACIA PARA AS CRIANçAS?
- Não. É fundamental que estejam numa relação vertical: os pais em cima, as
criançasem baixo. Porquehá uma diferença entre educar e criar. Criar é
dar-lhe os cuidados básicos, dar-lhe banho, alimentá-lo, etc. É como criar
galinhas. Educar é haver qualquer coisa que não existe e que é preciso
formar. Por isso a criança não está nunca ao mesmo nível dos pais, não pode
haver uma relação horizontal. Se quiser compreender o que se passa na
cabeça de uma criança numa relação horizontal, imagine o seguinte: você
está num avião, e o comandante vem sentar-se ao seu lado. Você pergunta,
Mas quem é que está a guiar o avião? E ele diz, 'Ah, é um passageiro da
primeira fila que eu pus no meu lugar.' A criança tem necessidade de alguém
acima dela.

- AS MãES NãO SE ESCANDALIZAM COM A MUDANçA DE HáBITOS QUE LHES ACONSELHA?
- Nada disso. As mães estão petrificadas na sua angústia e precisam de se
libertar. Eu digo, 'mas não vale a pena angustiarem-se dessa maneira, ser
mãe é muito mais simples do que vocês pensam'. Digo-lhes que não vale a
pena viverem preocupadas porque a criança não come, não dorme, ou vai ter
ciúmes do irmão. Dou-lhes conselhos básicos e fáceis de seguir e tento
fazer com que simplifiquem a máximo as suas vidas. O que eu quero é que a
criança seja para os pais uma fonte de prazer e felicidade, e não um foco
de sofrimento e angústia, e para que isso aconteça, os pais têm de estar
descontraídos.

- AS NOSSAS AVóS NãO VIVIAM NESSA ANGúSTIA...
- Pois não. Mas viviam num mundo em que havia três tipos de ordem: Deus,
Rei e pai. Esse tipo de ordem fazia com que existisse qualquer coisa que as
transcendia. Hoje todo o tipo de transcendência desapareceu, e quem ficou
no lugar de Deus? A criança. Às mães que põem o filho nesse altar, eu
simplifico a tarefa: digo - Não se cansem dessa maneira. Não se preocupem
assim. Ponham-se a vocês próprias em primeiro lugar. Claro que não é uma
coisa que elas estejam habituadas a fazer, ou sequer a ouvir, mas não é por
isso que não podemos dizer-lhes, e não é por isso que elas vão deixar de
ser capazes de o fazer. Acredito que vão ser capazes, porque é urgente: a
bem das crianças, e a bem delas próprias. É preciso fazer as coisas de
maneira tranquila, porque a mãe perfeita não existe, o pai perfeito não
existe, a criança perfeita não existe.

- MAS AS MãES HOJE TêM UMA VIDA TãO DIFíCIL, é NORMAL QUE SE
CULPABILIZEM...
- Não é por trabalharem fora de casa que têm de se sentir culpadas. Peço às
mães: lembrem-se do vosso primeiro amor. Quando não o viam durante três
dias, morriam de saudades. Mas quando o voltavam a ver, assim que batiam os
olhos nele era como se nunca se tivessem separado. Com as crianças, é
exactamente igual. Quando tornam a encontrar a mãe, é como se ela nunca
tivesse partido.

- DIZ QUE OS PAIS ESQUECERAM O SEU PAPEL DE EDUCADORES PORQUE QUEREM SER
AMADOS PELAS CRIANçAS. POR QUE é QUE ISTO ACONTECE?
- Como todas as crianças, tiveram conflitos com os pais. E como todas as
crianças, amam-nos mas guardaram muitos ressentimentos. E não querem que os
seus filhos tenham esse tipo de ressentimento em relação a eles. E pensam
que a melhor maneira de o fazer é seduzir a criança para que ela o ame. O
que é um enorme erro. Porque nesse momento, a relação vertical inverte-se.
A hierarquia fica de pernas para o ar, e quando isso acontece, destruímos a
crianças.

- O PROBLEMA é QUE AS PESSOAS CONFUNDEM AUTORIDADE COM VIOLêNCIA.
AUTORIDADE é FAZER-SE OBEDECER, NãO é DAR UMA PALMADA, QUE O SENHOR ALIáS
DESAPROVA.
- Completamente! Não aprovo palmadas de que género for, nem na mão nem no
rabo. Ter autoridade não é agredir a criança. Ter autoridade é dizer:
'Quero isto', e esperar ser obedecido. Quero que faças isto porque eu
disse, e pronto. Autoridade é só isto, é assumir o seu dever. Não vale a
pena ser violento, aliás porque a criança sente a autoridade. É quando o
pai ou a mãe não está seguro do seu poder que a criança tenta ir mais
longe. Quando há uma decisão que é assumida pelos pais, ela cumpre-a.

- uma terapeuta de casal dizia que as pessoas hoje não têm falta de
erotismo, dirigem-no é todo para as crianças...
- Sem dúvida. E é isso que é urgente mudar. O slogan 'a criança acima de
tudo' deve ser substituído por 'o casal acima de tudo'. A saúde física e
psíquica das crianças fabrica-se na cama dos pais. Por que isso não
acontece é que há tantos divórcios, e depois a vida torna-se muito mais
complicada para a mãe, o pai e a criança. Se elas decidem privilegiar a
relação de casal, estão a proteger a criança.

- EDUCOU OS SEUS FILHOS DA FORMA QUE DEFENDE?
- Sim sim, eu eduquei os meus três filhos tranquilamente. A autoridade
significa serenidade, não violência. Ainda hoje, que eles já são mais do
que adultos, nos reunimos às vezes para jantar. E no outro dia, falámos
sobre as viagens de carro que costumávamos fazer - sempre viajei muito com
eles. Quando se portavam mal, eu virava-me para trás e dizia: - Olhem que
eu páro o carro e deixo-vos a todos aqui na autoestrada! - Só há pouco
tempo é que percebi que eles achavam que eu estava a falar a sério e que
seria capaz de os abandonar na estrada! (ri). Tal é a força da autoridade.
Mas isso não tem importância, o importante é que funcionava! (ri)

- diz que o pai tem de ser egoísta mas também diz que uma das tragédias do
mundo moderno é a ausência do pai... qual é então o papel do pai, para lá
de ser egoísta?
- Tem duas funções: a primeira é a de possibilitar à mãe o exercício da sua
feminilidade. A segunda é a de se oferecer ao filho ou filha como um escudo
contra a invasão da mãe. Porque de outra maneira, a mãe vai tecer à volta
do seu filho um útero virtual, extensível até ao infinito. O pai não está
presente como a mãe, mas é preciso que esteja presente.

- mas hoje exige-se aos pais que façam uma data de coisas, que mudem
fraldas, que ponham a arrotar, que ensinem karaté...
- Não é preciso. Porque na cabeça das crianças tudo está muito claro:
aquela que o filho ama acima de tudo é a mãe, que sempre respondeu às suas
necessidades desde que estava na sua barriga. Se alguém lhe diz 'não',
mesmo que seja a mãe, para ele a culpa é do pai. Ou quando muito, da
não-mãe. No inconsciente de uma criança, o pai não existe. Só há a mãe. O
pai tem de se construir, a bem das crianças e a bem da mãe delas.

- antes de ler este livro não tinha consciência de que as crianças estavam
tão perturbadas.
- Li um artigo recentemente do director do centro médico-pedagógico de
Paris, que afirmava que em 2008 tinha recebido 394 novas famílias, e que a
maior parte tinham problemas psicológicos. No fim da primária, 40% dos
alunos ainda não dominam a língua, e isto é grave. E não porque tenham
problemas físicos ou sejam burros: é porque não os sabemos educar. Mas é
uma tarefa difícil, porque mesmo as instâncias governativas vão no sentido
de seduzir a criança. Porque as crianças vendem, são um produto que se
compra e se compara. Todo o mundo vai no sentido de deixar a criança fazer
o que quer, porque é mais fácil que ela não cresça. Mas o que vai acontecer
é que essas crianças, se não travadas, vão crescer e fabricar sociedades
absolutamente abomináveis, onde será cada um por si, onde não haverá
solidariedade.

.- nem cientistas.. É O SENHOR QUEM O DIZ...
- (ri). Apesar de tudo, estou optimista. As pessoas querem saber como podem
mudar. Não sou o único a dizer estas coisas, mas digo-as de forma bruta.
Tenho 40 anos de experiência com pais e crianças. E é muito fácil mudar,
quando começamos a ver a lógica das coisas. Além disso, o que eu pretendo é
simplificar a vida das pessoas. Não quero voltar àquilo que se fazia há um
século. Não quero pais castradores.

- O QUE é UM PAI CASTRADOR?
- Não é um pai autoritário, é um pai fraco, intranquilo, desconfortável na
sua pele e na sua posição. O que eu digo é, a sua posição como pai ou mãe
está assegurada à partida. Só tem de exercê-la. Uma vez, apareceu-me uma
mãe muito alarmada porque a filha não dormia. Aconselhei-a a dizer à
criança, antes de dormir: 'Podes dormir tranquila. Não preciso mais de ti
hoje.' E a criança dormiu a noite toda. Por isso eu digo no fim das
consultas, a todas as crianças, tenham elas 1, 7 ou 14 anos, 'Muito
obrigado por me teres trazido os teus pais à consulta. Agora podes ficar
descansado, eu ocupo-me deles.'

O QUE DEVEMOS FAZER...
Palavra de ordem: não compliquem.
Segundo Aldo Naouri, o esterilizador de biberões não faz sentido, nem
desinfectar o mamilo.
- Os biberões devem lavar-se com água quente da torneira.
- As nádegas do bebé devem ser lavadas com água e sabão.
- A roupa do bebé pode ser enfiada na máquina como o resto da roupa de
casa.
- Em todas as idades, devem tomar-se as refeições familiares em conjunto.
- Um adolescente pode ir vestido da maneira que bem-entender.
- Petiscar, no caso de um adolescente, não é de condenar, porque precisam
de imensas calorias.

E O QUE NÃO DEVEMOS...
- Rituais antes de dormir, como a história ou a cantiga, é para irem à
vida. Só servem para ritualizar o medo da criança. Deve-se mandar a criança
para o quarto, e aí ela fará o que quiser com o seu tempo.
- Angustiar-nos com as horas de sono. É absolutamente necessário
livrarmo-nos da obsessão do número de horas que eles dormem.
- Nunca, em circunstância alguma, se deve obrigar uma criança a comer.
- Biberão, chupeta e objectos de transição devem desaparecer antes do fim
do segundo ano da criança.
- Bater nunca: nem na mão nem no rabo.
- Elogiar, só para coisas excepcionais.
- A criança não deve escolher a sua roupa.
- Uma ordem não tem de ser explicada, tem de ser executada. A explicação
que é dada ao mesmo tempo que a ordem apaga a hierarquia. Se quiser
explicar, só depois da ordem cumprida. A figura parental nunca, mas nunca,
tem de se justificar perante o filho.

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